No emaranhado dos mitos gregos, onde Aracne e Penélope se entrelaçam entre fios e destinos, a tecelagem se ergue como uma metáfora luminosa para a criação feminina e a resistência ao silêncio imposto pela sociedade patriarcal. Cada ponto tecido por Aracne e cada trama desfeita por Penélope são mais do que meros gestos de habilidade; representam atos de autonomia e rebeldia contra o domínio masculino. Nesse universo simbólico, a arte de fiar, tradicionalmente associada às mulheres, adquire uma nova ressonância no ensaio A Representação Feminina nos Romances de Cyro dos Anjos, de Geuvana Vieira de Oliveira. Aqui, a tecedura transcende sua função prática para se tornar um emblema de criatividade, comunicação e contestação. O estudo de Vieira de Oliveira nos induz a pensar como essa metáfora entrelaça e acende a construção das personagens femininas nas obras de Cyro dos Anjos — O Amanuense Belmiro, Abdias e Montanha — tecendo com sutileza e profundidade seus papéis nas narrativas, tais como bordados intricados que desafiam convenções e exigem reconhecimento. O ensaio examina, assim, a figura feminina sob dois grandes arquétipos: o tradicional e o moderno, desgastando os padrões e tecidos de gênero que moldam nossas histórias.